Por Isaac Cassemiro Ribeiro
O Rei Perpétuo Joaquim Santana nos ensinou que “o congo teve um princípio muito bonito aqui no Machado. No tempo do cativeiro tinha uns que gostavam de caçar de bodoque”, e em meio a essas caçadas, encontraram uma imagem de Nossa Senhora do Rosário em um rochedo de pedra. Tentaram levá-la, mas não conseguiram. Voltaram no outro dia e só puderam retirá-la quando tentaram “outro modo, que nem na África: um arranjou uma violinha, outro uma caixa, um pandeirinho, e todos vestiram uma saia colorida (…) e quando viu, a Santa deitou e eles puderam trazer. (…) Eram todos gente africana, cantavam enrolado numa língua velha que era a deles. Daí nós continuamos todo o sempre com o nosso canto e nossa dança, pra homenagear a Santa e ao São Benedito”.
As tradições afro-diaspóricas se propagaram pelo território colonial, e em Machado elas remetem há mais de duzentos anos. O registro mais antigo que se encontrou para o sudoeste de Minas, em pesquisa do prof. Tarcísio Gaspar de Souza, é de 1790. Em julho daquele ano, foi sepultado na freguesia de Jacuí o crioulo forro Antônio Machado de Miranda, rei da Irmandade do Rosário. Meio século depois, sabemos, através das memórias de Francisco de Paula Ferreira de Rezende (1832 – 1893), que a Festa de Nossa Senhora do Rosário era a mais concorrida pelos moradores da vila de Campanha, chamada de o “berço” do Sul de Minas. Ferreira Rezende rememora, de sua infância, que “em contraposição a todas estas tristezas da semana santa, a mais alegre de todas as festas da Campanha era a festa dos negros; isto é, a de N. Sra. do Rosário”.
Por essa época, em 1845, foi iniciada a construção da primeira Igreja de N. Sra. do Rosário, em Machado. De acordo com Tia Anselma, preta velha machadense nascida por volta do ano de 1879, “os primeiros ternos de Congado apareceram nas festas de São João, realizadas nas fazendas do Município”, depois passaram para a cidade. Em 1923, trocou-se o nome de “Festa do Rosário” para “Festa de São Benedito”. A partir de 1942, a festa passou a ser celebrada sempre em agosto, por serem então os congadeiros, em sua grande maioria, trabalhadores nas colheitas de café, e, findada a colheita, teriam melhores condições para fazer a festa. Em 1981 inaugurou-se a “Casa do Congadeiro Tio Chico”, e no ano seguinte foi aprovado o estatuto da Associação dos Congadeiros de Machado, entidade que fortaleceu a festa e os ternos. Em 2010, a Festa de São Benedito foi registrada como patrimônio cultural imaterial do Município e reconhecida como a maior celebração religiosa e festiva da cidade. Em 2023, se apresentaram 27 ternos. Nesse mesmo ano, durante a festa, foi inaugurada a exposição “Imagem e Festa: Histórias e Memórias da Festa de São Benedito e de seus Ternos de Congada (Machado–MG, 1914 – 2023)”. A exposição foi fruto de diversos projetos de extensão coordenados pelo prof. Dr. Isaac Cassemiro Ribeiro em parceria com o prof. Cláudio Aparecido de Carvalho, presidente da Associação dos Congadeiros de Machado.

Acervo: Grupo de Pesquisas em Cultura Material – GPCM / IFSULDEMINAS – Campus Machado
Autor: Isaac Cassemiro Ribeiro
Descrição: Exposição com 16 banners afixados em 4 cavaletes em forma de “L” contendo dados e imagens sobre a história da Festa de São Benedito e de seus Ternos de Congada, em Machado (MG). Ao centro uma mesa contendo álbuns com fotografias de festas anteriores. Ao fundo a Rainha Congo, Marlene de Souza, em frente aos trajes do Rei, Rainha, Guardião da Rainha, Mulinha e Boi das Oliveiras. Ao lado direito, dois expectadores. Fotografado em agosto de 2023.

Acervo: Grupo de Pesquisas em Cultura Material – GPCM / IFSULDEMINAS – Campus Machado
Autor: Isaac Cassemiro Ribeiro
Descrição: Da esquerda para direita, os trajes da Mulinha, pertencente ao Terno da Mulinha; o do Guardião da Rainha (Carlos); o da Rainha do Ramalhete Aparecida de Souza; o do Rei Perpétuo, Vitor Santana; e o da Atual Rainha do Ramalhete, Vanessa de Souza. Ao centro, a coroa do do Rei Perpétuo, Vitor Santana. Fotografado em agosto de 2023.

Acervo: Grupo de Pesquisas em Cultura Material – GPCM / IFSULDEMINAS – Campus Machado
Autora: Marcela Soares Milagre
Descrição: Equipe do projeto, em frente a Tenda Congo, na inauguração da exposição. Na fotografia, da esquerda para direita, prof. Cláudio Carvalho, presidente da Associação dos Congadeiros de Machado; bolsista Tayná Santos; bebê Antônio Milagre Ribeiro; bolsista Frederico Martins; bolsista Letícia Carvalho e o coordenador do projeto, prof. Dr. Isaac Cassemiro Ribeiro Ribeiro. 19 de agosto de 2023.

Acervo: Grupo de Pesquisas em Cultura Material – GPCM / IFSULDEMINAS – Campus Machado
Autor: Isaac Cassemiro Ribeiro
Descrição: Terno de Demonstração (ou Terno Modelo) durante a abertura da Festa de São Benedito em Machado -MG (2023). O terno modelo conta com a participação de capitães e membros de todos os ternos de Machado, e foi criado com o objetivo de resgatar e manter a memória dos antigos ternos de Machado. Fotografado em agosto de 2023.

Acervo: Acervo Particular de Ricardo Celso de Souza
Autor: Ricardo Celso de Souza
Descrição: Apresenta o Terno de Douradinho, distrito de Machado (MG). Em primeiro plano, com boné do São Paulo, consta o capitão do terno, Nézio Pereira. Foi subdelegado e fiscal da prefeitura e subdelegado no distrito, tomou posse no cargo em 15 de dezembro de 1973, exercendo-o por mais de 20 anos.