Por André Luiz Ribeiro de Araújo
As festas de Folias estão presentes em vários estados brasileiros, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, etc. Em uma alusão aos Reis Magos, os grupos performantes em torno destas festas, podem ser denominados na cosmovisão dos “reisados”, como ternos, caravanas, companhias ou embaixadas. Todavia, os grupos de Folias em Minas Gerais, são também estruturados a partir da devoção de mais de 50 santos, como, por exemplo: Divino Espírito Santo, São Sebastião, Bom Jesus, Nossa Senhora Aparecida, entre outros. No Vale do Mucuri, no nordeste mineiro, cada festa de Folia possui uma data comemorativa específica: as Folias de Reis (6 de janeiro), as festas de Folia de São Sebastião (20 de janeiro) e as de Bom Jesus da Lapa (6 de agosto).
As festas de Folias se caracterizam por sustentar o tecido social de vários grupos envolvidos com as manifestações, expressas em seus diversos símbolos e nas relações entre participantes e a comunidade. Essa forma de expressão é singular por ser transmitida de geração a geração, sobretudo a partir da oralidade. No caso do Vale do Mucuri, estas festas se destacam por ter origem ligada à zona rural, mas são presentes também nas cidades, envolvendo a comunidade no geral, inclusive, quilombolas e alguns indígenas Maxakali.
Nesta região, as pessoas que atuam na musicalidade das festas, são reconhecidas como “cantadores de folia”, mas em outros locais do Brasil, podem ser denominados como cantores, tocadores, e, em alguns casos, reis e palhaços. As pessoas envolvidas nas performances musicais são tocadores de violão, caixa, pandeiro, sanfona, viola, prato, etc. Há também duas modalidades de vozes dos/as cantores/as: as “requincas”, vozes mais agudas e a “contra”, voz mais grave. A junção destas duas melodias, em posições opostas, ou seja, agudo e grave, são fundamentais e recorrentemente exigidas para o desempenho e qualidade musical.
Esses foliões e foliãs, realizam visitas às casas dos devotos e devotas, distribuindo bênçãos e recolhendo donativos reconhecidos como “esmola”, destinada para variados fins, principalmente para a gestão da festa. Durante a jornada, os foliões e foliãs, possuem como elemento simbólico principal a bandeira e se organizam a partir dos “giros” para cumprimento de promessas, realização de Terços e levantamento da bandeira no mastro.
No Vale do Mucuri, durante os Terços, acontece maior concentração do público, de orações e distribuição de alimentos. Este é o momento final da festa, quando as pessoas e comunidade rezam ao redor do presépio e também queimam fogos de artifício em comemoração ao dia do santo, o qual o São Sebastião, é mais destacado. Após a realização do Terço, a bandeira é levantada no mastro. Em Santa Helena de Minas–MG, uma das 23 cidades que compõem a região do Vale do Mucuri, esta bandeira, ainda pode ser roubada do mastro, provocando motivo de chacota e por sua vez, grande sociabilização do/as devotos/as em torno da religiosidade.

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: Desconhecido.
Descrição: Foto posada durante festa de Folia em louvor a São Sebastião no mês de janeiro (ano não identificado), liderada pelos músicos “marcantes” Dedé e Olívio. Esta festa conta anualmente com a participação musical dos indígenas Maxakali, “Té Caboclo” e “Negão Caboclo” em Santa Helena de Minas, Vale do Mucuri, nordeste de Minas Gerais. Os foliões não indígenas tocam violão, viola, sanfona e cantam e os indígenas Maxakali tocam caixa, pandeiro e cantam respondendo os versos das músicas. A dona da casa, na extrema-direita da foto, segura a bandeira da festa em louvor ao santo e em respeito à tradição local.

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: André Luiz Ribeiro de Araújo
Descrição: Foto posada na festa de Folia em louvor a Bom Jesus da Lapa, durante o “giro” que passou pela casa de Sr. Etelvino da Cruz Prates, em agosto de 2022 – Carlos Chagas, Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais. A performance musical da festa foi liderada pelos “marcantes” Reinaldo (voz e violão) e Souza (viola e voz). Nessa ocasião teve a participação de Fabinha (pandeiro e voz), Tamiro (violão), Puba (voz e carregador da bandeira), Sarapião (caixa, prato e voz) e Paraná (bumbo). As pessoas participantes, além de tocar instrumentos como o violão, bumbo, sanfona, caixa, pandeiro e pratos, cantam fazendo as “contra”, vozes graves, e as “requincas”, vozes agudas.

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: André Luiz Ribeiro de Araújo
Descrição: Registro fotográfico do folião de 86 anos, Tião Supita, em sua casa durante a implementação da Lei Aldir Blanc (nº14017) na cidade de Santa Helena de Minas (MG) em 2020. Tião Supita, como é conhecido, Sebastião Rosa Pereira da Silva, nasceu em Pedra Azul (MG), no Vale do Jequitinhonha (MG). Assim como muitos outros cantadores de Folia entrevistados no Vale do Mucuri (MG), migrou do Vale do Jequitinhonha (MG) para o Vale do Mucuri (MG) nas primeiras décadas do século XX para se tornar agregado de fazendeiros da região. Tião Supita participa das festas de Folia desde criança e nos últimos 20 anos têm incorporado à sua festa alguns indígenas Maxakali da cidade de Santa Helena de Minas no Vale do Mucuri (MG).

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: André Luiz Ribeiro de Araújo
Descrição: Festa de Folia de Bom Jesus da Lapa em Carlos Chagas, Vale do Mucuri no nordeste mineiro no dia 06 de agosto de 2012. O registro foi realizado durante o giro da fFolia na casa de Dona Branca e contou com a presença dos cantadores de fFolia já falecidos: Abílio em 2016 e Joaquim Caboclo e Mestre Dema, em 2019. Os outros, Sarapião, Tamiro, Ligeirinho e Reinaldo continuam atuantes nas festas de Folias da cidade até hoje em dia. No registro, os foliões aparecem em uma sala estreita cantando as modalidades de vozes agudas e graves (contra e requincas). Ao mesmo tempo que cantam, tocam violão, pandeiro e caixa, a dona da casa segura a bandeira da festa em louvor ao santo e em respeito à tradição local.

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: André Luiz Ribeiro de Araújo
Descrição: Os presépios são montados a partir do período natalino e configuram como cenário onde o menino Jesus teria nascido e recebido a visita dos “Três Reis Magos”. Esses Magos aparecem na passagem bíblica no livro de Mateus (2: 1-16) guiados por uma estrela até Jesus a quem foi doado presentes (ouro, incenso e mirra). É diante deste cenário, montado dentro das casas que as pessoas devotas rezam o Terço, costumeiramente em dias de Santos Reis ou São Sebastião. Este registro foi realizado no dia 20 de janeiro de 2021 (dia de São Sebastião) na casa de Léo da Folia na cidade de Santa Helena de Minas no Vale do Mucuri (MG). Após a reza do Terço, distribuição de alimentos, bebidas, a queima de fogos de artifício, acontece o levantamento público da bandeira com a imagem do santo no mastro.

Acervo: André Luiz Ribeiro de Araújo
Autor: Desconhecido.
Descrição: Os Ladrões da bandeira são brincantes da própria comunidade e seu papel é divertir a comunidade devota do santo. O registro é do ano de 2023. No último dia da festa de Folia de São Sebastião, no dia 20 de janeiro, rezam o Terço e levantam a bandeira do santo. Após o levantamento da bandeira, o “Ladrão”, sem que ninguém saiba, a rouba. Estes ficam por um ano no anonimato e somente no ano seguinte, no dia 20 de janeiro, aparecem mascarados e com a bandeira roubada. Em lugar público, os festeiros e os Ladrões da bandeira reúnem a comunidade e fazem a encenação do julgamento dos Ladrões perante o juiz e advogados imagéticos em um clima de muita chacota. Revelada a identidade dos Ladrões da bandeira, suas punições costumam ser convertidas em pagamentos de mantimentos como bebidas, alimentos e fogos de artifício, para colaborar com o desenvolvimento da festa.