Escrito por Paulo Campos em 3 de maio de 2025. 

A arqueologia pode ser entendida como um campo científico que busca compreender as diferentes formas de organização social, política, de espiritualidade, de paisagens e demais aspectos da vida cotidiana a partir da cultura material. Dessa forma, a arqueologia é o estudo sobre os grupos humanos em diferentes épocas e lugares, incluindo o mundo contemporâneo, que busca criar narrativas referente às distintas formas de viver e interagir com os lugares, com as coisas e com os seres que os habitam

A materialidade, ou a cultura material, é um dos principais focos da análise arqueológica e pode ser entendida como artefatos, objetos, coisas ou paisagens que em relação entre si ou com os grupos humanos – seja de fabricação, utilização, descarte, acordos, necessidades entre outros – nos apontam aspectos sociais e formas de estar e interagir com o mundo. Desse modo, a análise da cultura material através da arqueologia nos mostra aspectos do cotidiano dos antigos grupos indígenas que habitavam o território brasileiro antes da invasão europeia, ou formas de resistência e interação que as populações negras escravizadas desenvolveram no Brasil durante o período colonial, tal como os quilombos e as festividades tradicionais – Rosário, Congada, Marujada, entre outros.

Em Oliveira, por exemplo,  foram registradas durante nossas pesquisas lâminas de machados, feitos de pedras polidas e fragmentos de panelas de cerâmica, fabricadas a partir da modelagem/roletagem e queima da argila pelas antigas populações indígenas. As panelas de barro demonstram uma série de saberes e técnicas para sua produção, como o manejo do fogo para a queima adequada e a reprodução de aspectos decorativos entre povos indígenas próximos, além de apresentarem marcas que indicam a produção de bebidas fermentadas e alimentos tais como a mandioca ou o cará. 

Ainda em Oliveira foram identificados cachimbos de barro utilizados pela população negra durante o período colonial e trechos de muros de pedras construídos pelos escravizados, a partir da técnica de junta seca. A área onde se encontra o muro de pedras é utilizada na atualidade para a realização de expressões religiosas de matriz africana, demonstrando como a cultura material pode operar em distintas épocas a partir de ressignificações e convivências, podendo ser um caminho para o resgate da memória e do fortalecimento da identidade de grupos tradicionais.

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