Escrita coletiva

Esse grupo de trabalho, estudo e  pesquisa, nasceu dentro das discussões do grupo de Cultura Material e durante a realização do I Seminário do Projeto Passados Presentes Patrimônios e Memórias Negras e Afro-indígenas em Minas Gerais. A partir de uma proposta de pesquisa individual que tinha inicialmente o objetivo de dar continuidade sobre a história da materialidade dos tambores de Kandombe de Oliveira (1781), se tornou um trabalho coletivo, na tentativa de identificar algumas das variadas possibilidades de pesquisa sobre a História Afro-indígena do município. Inicialmente apresentada pela Sá Rainha Konga e Historiadora Ana Luzia, a pesquisa se tornou um trabalho muito potente entre os demais integrantes do grupo: A Mestra em Saberes Tradicionais Capitã Pedrina de Lourdes Santos, o Arqueólogo Paulo Campos, a Turismóloga e Antropóloga Letícia Rosa e o Arqueólogo Pedro da Maura. O grupo persegue, desde 2023, os vestígios da história afro-indígena de Oliveira, com o objetivo de produzir narrativas contra-coloniais sobre este aspecto da história.

Kandombe: Tambores e ritual sagrado que fazem parte da estrutura ritualística de algumas comunidades Reinadeiras e Congadeiras em Minas Gerais. Em Oliveira, os tambores estão na guarda da Irmandade dos Leonídios e o ritual é realizado por eles, em momentos pontuais da Festa da Abolição no mês de maio, no levantamento das bandeiras de aviso em agosto e no Reinado em setembro.

Ao lado, Mestra em Saberes Tradicionais Capitã Pedrina de Lourdes Santos junto aos Tambores de Oliveira-MG

A Capitã Pedrina, tendo, há décadas, ciência de alguns aspectos da História Afro-indígena de Oliveira, contribuiu com este importante trabalho, que tem como dinâmica uma produção intersistêmica, valorizando o conhecimento acadêmico e o conhecimento das comunidades, a partir de um diálogo entre estes dois mundos. Partindo dessa proposta dialógica entre mundos, o grupo tem buscado também narrativas de membros das comunidade e de entidades como os Pretos Velhos (Entidades cultuadas na Umbanda que também orientam algumas comunidades Reinadeiras) que têm sinalizado lugares onde provavelmente vamos encontrar vestígios do tempo pré-colonial e colonial.

Considerando distintas fontes arqueológicas, históricas e antropológicas para tentar desenvolver a pesquisa, foram destacados três pontos: a região do antigo Quilombo de Oliveira, a antiga senzala da Joana Moura –  possivelmente localizada onde hoje é a Casa Azul, sede da Irmandade dos Leonídios e onde também foram encontrados os tambores de Kandombe –  e os vestígios de africanos e indígenas nas antigas fazendas de Oliveira, localizadas nas zonas rurais de Oliveira e Morro do Ferro.

O trabalho desenvolvido pelo grupo, inicialmente com recursos do Projeto Passados Presentes MG, mapeou fontes e está organizando os caminhos de desenvolvimento desta ampla pesquisa. Foram realizados três trabalhos de campo: inicialmente foram acompanhados os primeiros dias da Festa do Kongo em Oliveira em setembro de 2024, onde registramos o cortejo do Boi do Rosário, o ritual do Kandombe, a Missa Conga e o primeiro dia do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Em novembro de 2024, visitamos o Cartório de Morro do Ferro, o Labdoc na Universidade Federal de São João Del Rei e o Arquivo Histórico do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na cidade. No mesmo mês, registramos as peças indígenas que estão na Casa de Cultura Carlos Chagas e os Muros de Pedra da Fazenda Diamante em Oliveira. 

Identificamos várias fontes arqueológicas afro-indígenas, além de pensar a própria materialidade dos tambores de kandombe. No que diz respeito ao acervo no cartório, entrevistamos a oficial Dona Zélia, que infelizmente faleceu alguns meses após o registro. A atual oficial do cartório, Cintia Guglielmelli, também nos auxiliou encontrando documentação relacionada ao período da escravidão no distrito do Morro do Ferro. Os muros de pedra, um marco arqueológico na cidade, estão em processo de cadastramento como sítio arqueológico junto ao IPHAN, medida esta que visa a proteção do bem cultural e posteriormente a sua inserção nas bases oficiais do órgão.

Em São João Del-Rei encontramos documentos da antiga Irmandade do Rosário de Oliveira, além de processos crimes e o inventário de Justiniano das Chagas, marido de Joana Moura. Integrantes da importante família dos Mouras e Chagas, comerciantes de escravizados na antiga região de Oliveira. Além disso, encontramos também cartas de alforria, pedidos de alforria, notas de compra e venda de incontáveis africanos e africanos da diáspora. No momento, estamos em processo de organização e análise de todo esse material, na expectativa de escrever projetos e conseguir recursos para dar continuidade à pesquisa. 

Quais são os caminhos para a pesquisa? Mapear os sítios arqueológicos em Morro do Ferro e no Bairro de São Sebastião em Oliveira; fazer o trabalho de escavação e análise dos objetos encontrados e comparar com outros já localizados; dialogar e incentivar a comunidade a participar da pesquisa sobre as diversas tipologias de fontes e utilizar essas fontes para construir as narrativas sobre a história afro-indígenas de Oliveira. Agradecemos ao projeto Passados Presente em Minas Gerais e ao CNPq, a oportunidade de ir a campo e identificar algumas possibilidades de desenvolver essa ampla pesquisa sobre a história afro-indígena de Oliveira. Abaixo, alguns registros das fontes que produzimos que encontramos em campo.

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