Verbete: Orquestra Ribeiro Bastos

Por: Danilo José Zioni Ferretti e Bruna Inês Carelli Mendes

HISTÓRICO:


A orquestra Ribeiro Bastos, junto à Lira Sanjoanense, foi uma das duas corporações que surgiram no século XVIII com o intuito de responder às demandas musicais dos cultos religiosos de São João del Rei. Seu surgimento é relacionado ao “Partido de Música” da ordem terceira franciscana, documentado desde 1755.

Sede da Orquestra Ribeiro Bastos, na Rua Santo Antônio, São João del Rei. Em Agosto de 2020. Foto: Danilo Ferretti.

Ele seria arrematado por diferentes músicos ao longo dos séculos XVIII e XIX, até o maestro Ribeiro Bastos assumir sua direção, em 1860, passando a identificá-lo com seu nome. A agremiação se consolidou também por proporcionar uma formação a jovens músicos, que em suas escolas podiam desenvolver suas habilidades e serem reconhecidos por seu talento independentemente de sua cor de pele. A formação de músicos pelas orquestras sanjoanenses foi fundamental para a inserção e reconhecimento social dos negros da cidade. A Ribeiro Bastos contava com um número considerável de músicos e maestros, e dentre eles, uma presença marcante de músicos negros. Apesar dessa presença, os membros da Ribeiro Bastos foram apelidados de “coalhadas”, sugerindo que seriam majoritariamente brancos. Esse apelido evidenciava a concorrência entre as duas orquestras, não havendo uma separação estrita, em que teria somente brancos na Ribeiro Bastos e somente negros na Lira. Entre os afrodescendentes que compuseram esta orquestra, destaca-se o próprio Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912), um homem pardo, que além de maestro foi professor de latim, diretor da Escola Normal e, entre 1883 e 1886, assumiu cargos como o de vereador, presidente da câmara e juiz de paz. Compôs várias obras e se empenhou em formar novos músicos, transformando sua própria casa na rua da Prata em escola. Daí surgiram talentos como os irmãos Presciliano José e Firmino Silva, músicos negros. Presciliano (1854-1910), principalmente, teve relevante trajetória, compondo inúmeras obras entre missas, hinos e marchas. Em 1879, recebeu bolsa do imperador e fez estudos musicais na Real Escola de Milão, na Itália. No Brasil atuou como professor de música nas Escolas Normais de centros dinâmicos como Campinas-SP, em 1885; Cantagalo-RJ, em 1887; Nova Friburgo-RJ; até se estabelecer na cidade de São Paulo-SP, em 1890, onde faleceu.

Orquestra Ribeiro Bastos no coro da matriz do Pilar, 06-03-2020. Foto: Danilo Ferretti.

Orquestra Ribeiro Bastos no coro da matriz do Pilar, 06-03-2020. Foto: Danilo Ferretti.

Outro músico negro formado na escola de Ribeiro Bastos, foi João Francisco da Matta ( ? – 1909), compositor de peças cujas cópias deixou pelas cidades mineiras em que passou por conta de seu ofício de tropeiro. Foi maestro de banda em Oliveira-MG e teria ido à Corte publicar partituras. Boêmio, chegou a ser preso duas vezes e não deixou de marcar suas afinidades políticas ao compor um Hino à Liberdade, em homenagem à abolição da escravidão, e um Hino à República. Além desses, outros músicos negros participaram da Ribeiro Bastos, tais como os irmãos José Vitor d´Aparição e José Raymundo de Assis, José Quintino dos Santos, João Evangelista Pequeno, Japhet Maria da Conceição, Telêmaco Victor Neves, José Maria Neves e Maria Stella Neves Valle.

Busto de João Francisco da Mata, músico tropeiro formado na escola de Ribeiro Bastos, curiosamente guardado no salão da Lira Sanjoanense. Em Novembro de 2023. Foto: Danilo Ferretti.

REFERÊNCIAS:


AMASTALDEN, J.C.F. As Orquestras comunitárias de São João del Rei – MG: Identidade e afirmação social através da música. (2017). Cadernos CERU, 28 (1), 132-147.


COELHO, Eduardo Lara. Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidade de músicos negros (São João del, séc XIX), Resende Costa-MG, AMIRCO, 2014.


PFEFFER, Renato Somberg. LUNA, Moisés. Breve história da música antiga em Minas Gerais. Revista Pretexto. Belo Horizonte: Vol. 6, N°. 1 (janeiro/junho), 2005.

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