Verbete: Grêmio Recreativo Escola de Samba Bate Paus

Por: Danilo José Zioni Ferretti e Giovanna Guimarães Silva


HISTÓRICO:


Embora haja divergências quanto à data, o GRES Bate Paus adotou 1933 como o ano de sua fundação, sendo a agremiação carnavalesca mais antiga ainda ativa de SãoJoão del Rei, identificada pelas cores verde e rosa. Até hoje ela é uma agremiação fortemente comunitária, sediada e composta por moradores do Senhor dos Montes, bairro que conta com uma das maiores proporções de população negra da cidade.

No início, o Bate Paus é indicado como sendo um rancho carnavalesco, modelo vindo do Rio de Janeiro, que em São João del Rei se consolidou nos anos 1920, sendo aberto aos setores populares e dedicado a organizar um cortejo com alegorias, fantasias e composição própria. Diferenciava-se, assim, do desregramento do antigo entrudo e da segregação sociorracial das Sociedades carnavalescas, como o Clube X (1905-1937). O Bate Paus sobreviveu à quase extinção do carnaval local nos anos 1940, participou dos grandes desfiles dos anos 1950 a 1970 como bloco e se tornou Escola de Samba, em 1981, quando a prefeitura unificou o modelo das agremiações da cidade.

Práticas culturais de matriz africana fazem parte da origem da agremiação, estando no relato mais difundido pelos próprios membros. Contam que, no começo dos anos 1930, o rancho teria surgido quando o Senhor João Henrique adaptou uma prática há muito tempo realizada por seus companheiros (alguns falam desde 1901), caracterizada por ser “um tipo de dança com coreografia cadenciada e uso de paus, semelhante a algum tipo de dança de origem africana, como o congado”. De fato, performances com bastões e desafios são correntes em várias práticas originárias da África. Podendo se apresentar como dança ritual, recreação ou luta, abrangem um lequeamplo de manifestações como o “jogo de pau” das festas de jongo e da capoeira, o moçambique, o maculelê, dentre outras, sendo difícil precisar qual destas “danças de paus” está na raiz da entidade carnavalesca.

Alguns enredos da Bate Paus foram importantes também para a transmissão da memória da presença africana no Brasil ao longo do tempo e com grande visibilidade pública, como foi recorrente em outros grupos do carnaval da cidade. Em 1988, por exemplo, o elogio do candomblé era apresentado em plena avenida no enredo de temática “Mistura Brasileira”, junto a danças como maracatu e bumba-meu-boi.

Em 2019 a escola desfilou o enredo “Amém! Saravá! Axé! Bate Paus é a Nossa Fé”, em que a comissão de frente apresentava dançarinos caracterizados como orixás e mães de santo. Mais importante, a Bate Paus mantém há tempos, em todos os desfiles, uma ala, a dos “batedores de paus”, com seu respectivo “mestre”, que reencenam as práticas da origem da escola, onde os participantes fazem uma coreografia coletiva com um bastão, que batem em duplas e em rodas.


Rua José Pedro Azevedo |110 CEP 36 300 258 Bairro Senhor dos Montes São João
del Rei-MG.


REFERÊNCIAS:


ASSUNÇÃO, Matia Röhrig. “Stanzas and Stiks: Poetic and Physical Challenges in the Afro-brazilian Culture of the Paraiba Valley, Rio de Janeiro.” History Workshop Journal, 77 (1), 2014. Disponível em: https://repository.essex.ac.uk/8774/ Acessado 15/10/2024.


DANGELO, Jota. Subsídios para a História do Carnaval de São João del Rei, de 1950 a 2000. São Paulo: editora Atheneu, 2003


GONÇALVES, Renata de Sá. “Os Ranchos Carnavalescos e o prestígio das ruas; territorialidades e sociabilidades no carnaval carioca da primeira metade do século XX”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, v. 3, n. 1, 2006. Disponível em: http://www.tecap.uerj.br/pdf/v3/goncalves.pdf


GONZAGA, Igor Luiz Sandim. “Grêmio Recreativo Escola de Samba Bate Paus”. São João del Rei Transparente. 2007. Disponível em: https://saojoaodelreitransparente.com.br/organizations/view/35. Acesso 05/10/2024.


PASSARELLI, Ulisses. Bate paus: Um Moçambique de corte. Tradições Populares das Vertentes, 2015. Disponível em: https://folclorevertentes.blogspot.com/2015/08/bate-paus-um-mocambique-de-corte.html

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