Por: Lívia Nascimento Monteiro
HISTÓRICO:
A festa de maio na cidade de Piedade do Rio Grande, região do campo das vertentes do estado de Minas, acontece desde 1928, organizada pela Associação de Congada e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Mercês desde essa época. A Associação foi fundada por descendentes de ex-escravizados que moravam na região desde a segunda metade do século XIX e que mantinham relações de sociabilidades e amizade com os irmãos do Rosário da irmandade do Rosário de Ibertioga, cidade vizinha à Piedade, onde também acontecem os festejos até os dias atuais, no mês de setembro.

Em Piedade, a festa é parte do calendário turístico e religioso da cidade e se transformou em patrimônio imaterial do município. O grupo de mais de cem homens negros, vestidos com suas camisetas produzidas para a festa a cada ano, rompe com o barulho da caixa e canta em louvor à São Benedito no primeiro dia da festa, sempre na última sexta-feira do mês de maio. No sábado, com suas roupas brancas, chapéus com fitas azuis e rosa e toalhas na cintura, esses mesmos homens louvam e festejam a fé em Nossa Senhora das Mercês. À noite, os mesmos homens congadeiros transvestem-se em moçambiqueiros e o guizo no pé, a manguara na mão e o lenço amarrado na cabeça avisam que chegou a hora de brincar o moçambique e saudar Nossa Senhora do Rosário, o que acontece por todo domingo.

Nos três dias de festa acontecem as procissões, chamada de reis, missas conga e a coroação e cortejo do rei e rainha congos pela cidade. A liderança é exercida pelos capitães, que puxam os cantos e comandam a festa, sob a proteção do rei e rainha congos. As memórias da escravidão e do passado afro-diaspórico dos ancestrais congadeiros são cantadas, relembradas, ritualizadas e presentes na festa de maio.
CITAÇÃO:
Cantigas Playlist: https://www.youtube.com/playlist?list=PLAVqFHYOdWrYSrhErfkGc-WKeRdkA7l_X Documentário https://www.youtube.com/watch?v=F97CEDBeZNI
Piedade do Rio Grande, MG | 36227000 | Brasil |
REFERÊNCIAS:
ASSIS, Simone; SOUSA, Francival Araújo; MONTEIRO, Lívia. “A Congada é algo grande, é ancestral, é resistência.” Texto publicado no blog: https://conversadehistoriadoras.com/2020/06/14/a-congada-e-algo-grande-e-ancestral-e-resistencia/
MENEZES, Giane de Carvalho. Congada e Moçambique em Piedade do Rio Grande: passos de folia e fé. Volta Redonda, 2008.
MONTEIRO, Lívia Nascimento. “Foi quando estava acabando o tempo dos escravos”: devoção, redes familiares e conflitos nas últimas décadas da escravidão em Minas Gerais. Afro-Ásia, n. 62 (2020).