Verbete: Benzedeiras e benzedores

Por: Tayane Oliveira


HISTÓRICO:


A figura das benzedeiras e dos benzedores está vinculada ao imaginário popular, suas orações e rituais permeiam um universo criado por diversas influências religiosas e culturais. Através da prática, os benzedores representam uma figura intermediária que recebe o poder divino para aplicá-lo nas pessoas que o procuram a fim de se curar. 

A tradição oral apresentada nos benzimentos tem como base difusora as redes familiares e de convivência. A partir delas os conhecimentos são transmitidos de forma direta ou indireta para a geração seguinte, o que garante de certa forma uma herança simbólica. Sendo a família o lugar em que os processos identitários são elaborados, a oralidade tem um papel essencial na transmissão desses valores e conhecimentos, pois corresponde ao caminho pelo qual os benzedores ingressam por esse ofício de cura.

Ana e Geralda irmãs benzedeiras. Coronel Xavier Chaves/ MG, 2015. Tayane Oliveira.

A transmissão desses conhecimentos reflete na relação que os benzedores têm com o passado, com seus instrutores e com sua forma de ser e vivenciar a prática da benzedura.  Além da transmissão dos conhecimentos, os benzedores acreditam que para exercer esse ofício de fé e cura é preciso ter o dom e/ou a fé necessária para realizar a prática. Eles se especializam nas práticas aprendidas de seus “instrutores” e as ressignificam a partir de sua vivência religiosa. De acordo com Marcel Mauss (2003), o dom ou a dádiva podem ser entendidos como sistema de trocas da vida social, no qual se baseiam nas relações de dar, receber e retribuir.

 A partir desse conceito podemos entender a dinâmica estabelecida entre Deus, os benzedores e os consulentes.  Dessa forma, o dom da cura recebido pelos benzedores por Deus, é retribuído através dos benzimentos para ajudar as pessoas que lhes pedem assistência, sem nenhuma cobrança financeira por parte dos benzedores. 

Benzedeira dona Teresa ao lado de seus santos de devoção. São João del-Rei. 29/08/2020. Soraia Geralda Santos.

  Além das orações repassadas, os benzedores carregam consigo devoções e religiosidades que se manifestam a partir das vivências e visões de mundo desses sujeitos. A forma como cada benzedeira ou benzedor manifesta seu exercício de fé e cura no presente representa o modo como se conecta com seu passado.

Muito além de repetir as fórmulas das benzeduras, a prática está relacionada com sua vivência religiosa e com os valores que os benzedores trazem consigo. O ofício da benzedura desenvolvido por esses benzedores e benzedeiras carrega uma força ancestral que se perde no fio do tempo. Suas vozes ecoam saberes, expulsam o mal, promovem a cura, harmonizam o espírito. Fazer o bem é o que move suas trajetórias de vida.


REFERÊNCIAS:


MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. 2003


OLIVEIRA, Tayane Aparecida Rodrigues. Reza Antiga, Cura Certa – Bênçãos, memórias e quebrantos: o oficio da benzedura na cidade de São João del-Rei.   Dissertação (Mestrado em História) – UFSJ, 2022. Disponível em: https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/pghis/DissertacaoTayaneAparecidaRodriguesOliveira.pdf. Acesso em: 10 de outubro de 2024.


PEREIRA, Edimilson de Almeida; GOMES, Núbia Pereira de Magalhães. Assim se benze em Minas Gerais: um estudo sobre a cura através da palavra. Belo Horizonte. Massa Edições, 2018. 


QUINTANA, Alberto Manuel. A Ciência da benzedura: mau-olhado, simpatias e uma pitada de psicanálise. Bauru: EDUSC.1999.

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