Por: Silvia Brügger e Bruna Inês Carelli Mendes
HISTÓRICO:
A Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro é uma entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 2005, com sede no bairro Guarda-Mor, em São João del Rei, por Mãe Celina d`Oxum, Celina Batalha Correa. A Associação é responsável pela manutenção do templo religioso de matriz africana Egbe Ile Omidewa Ase Igbilayo, que desenvolve cultos ligados ao candomblé, umbanda e jurema sagrada. A história do terreiro se integra à trajetória religiosa da Yalorixá. Embora sua mãe fosse médium na umbanda, o que lhe possibilitou conviver com essa religião e suas práticas desde jovem no Rio de Janeiro, foi em São João del Rei que, em 2002, aos 52 anos de idade, Celina, em decorrência de problemas de saúde, se iniciou no candomblé, através de Pai Cláudio de Oxóssi, no Terreiro de Mãe Preta, localizado no Bairro do Araçá. Posteriormente, Pai Cláudio de Oxóssi saiu do terreiro de Mãe Preta, juntamente com alguns filhos de santo, entre os quais Celina, e passou a realizar as práticas religiosas em sua casa, vinculando-se a um terreiro no Rio de Janeiro. No entanto, algum tempo depois, foi indicado que o local não possuía segurança espiritual para os trabalhos que lá estavam sendo feitos. Mãe Preta indicou que os iniciados deveriam deixar o terreiro e passar a realizar os trabalhos na casa de Celina, em Tiradentes. No entanto, tendo em vista os problemas decorrentes da coexistência do espaço familiar com as práticas religiosas, foi feita uma nova consulta a Mãe Preta, que recomendou a abertura de um novo terreiro, tendo Celina como Yalorixá. Essa indicação era incomum, uma vez que, na tradição do candomblé, são requeridos, normalmente, pelo menos, sete anos de iniciação para que alguém se torne dirigente de uma casa e Celina tinha apenas três anos de iniciação. Mãe Celina adquiriu terreno na região do Guarda-Mor, em São João del Rei, e lá foi construído o terreiro. Em busca de mais estabilidade e segurança, a Associação Casa do Tesouro se vinculou ao Egbe Ile Iya Omidaye Ase Obalayo, terreiro situado em São Gonçalo, Rio de janeiro, e liderado pela Yalorixá Márcia D’Oxum, por sua vez, vinculado ao Terreiro do Gantois em Salvador. Após essa mudança na casa matriz, o terreiro agregou em seu nome o Egbe Ile Omidewa Ase Igbolayo, do iorubá Egbe = comunidade; Ile = casa; Omidewa = beleza das águas (associado a Oxum, orixá das águas doces); Igbolayo = território das matas (associado a Oxóssi, orixá das matas).

Da rua, vê-se um portão branco com letreiro indicando o nome da Casa “Egbe Ile Omidewa Ase Igbolayo – Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro”. Passado o portão, há na entrada os quartos de alguns orixás, entidades da umbanda e da jurema. Logo depois, um canil e uma horta. Na parte de baixo do terreno, o barracão onde se realizam as cerimônias religiosas, contando ainda com quartos de outros orixás, cozinha e aposentos para recolhimento dos filhos da casa. No fundo, um galinheiro e árvore da jurema sagrada. Embora no terreiro se realizem rituais de candomblé, umbanda e jurema, há uma separação nos dias reservados para as celebrações de cada uma delas. Muitos dos pontos cantados dedicados aos pretos-velhos e os pontos da jurema sagrada, incluem figuras do catolicismo. Além das práticas religiosas, a Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro realiza atividades culturais e artísticas que visam valorizar a cultura negra da cidade, em diálogo com manifestações artísticas de outras regiões do país. Assim, ela atua como um centro de estudos e produção cultural. Com o falecimento de Mãe Celina em novembro de 2022, a Casa do Tesouro interrompeu suas atividades para o público externo, recebendo apenas alguns membros do terreiro para os rituais fúnebres da Yalorixá. A liderança da casa foi assumida por Yánifá Ifaseebi Ajigbotifá (Fabiana Batalha Knacfuss), filha carnal de Mãe Celina, e está prevista a sua reabertura para o início de 2025.
CITAÇÃO:
“Eu abro a nossa gira é com Deus e Nossa Senhora,
Eu abro a nossa gira, sambolê, pemba de Angola,
Eu abro a nossa gira, pedindo em oração…
A nosso pai Oxalá, para cumprirmos a nossa missão.”
(Ponto cantado nas giras de umbanda, citado na dissertação de mestrado de Lívia Lima Rezende, “Força Africana, Força Divina: a memória da escravidão recriada na figura umbandista dos pretos-velhos”.)
Rua Vereador Vicente Cantelmo|875| Bairro Guarda Mor | São João del Rei – MG
REFERÊNCIAS:
REZENDE, Lívia Lima. “Força Africana, Força Divina: a memória da escravidão recriada na figura umbandista dos pretos-velhos”. Dissertação (mestrado – Programa de Pós-graduação em História- UFSJ), São João del Rei: 2017.
TEIXEIRA, Rafael Teodoro. “A voz dos atabaques na cidade onde os sinos falam: trajetórias de vida de mães e pais de santo em São João del Rei-MG”. Dissertação (mestrado- Programa de Pós-graduação em História- UFSJ), São João del Rei: 2020.
Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro-Egbe Ile Omidewa Ase Igbolayo. (n.d.). Find Glocal. Disponível em: https://www.findglocal.com/BR/S%C3%A3o-Jo%C3%A3o-del-Rei/177110969118511/Associa%C3%A7%C3%A3o-Afrobrasileira-Casa-do-Tesouro-Egbe-Ile-Omidewa-Ase-Igbolayo