Verbete: Benzeduras e benzimentos

Por: Tayane Oliveira


HISTÓRICO:


Benzeduras e benzimentos são ações curativas vinculadas à imagem de benzedeiras e benzedores. Os benzimentos representam uma tradição cuja origem se perde no tempo. Essa tradição apoia-se na transmissão oral passada de geração em geração por familiares e pessoas da convivência diária, o que garante de certa forma uma herança simbólica.

As enfermidades atreladas à prática de benzedura adquirem um sentido próprio entre benzedores e consulentes. Se não há compartilhamento de crenças, de sentido, de fé, não há como promover a cura. Para Alberto Manuel Quintana, a  doença não pode ser vista como um processo isolado do seu contexto social, há sempre uma necessidade de conhecer a causa do mal e, fundamentalmente, as circunstâncias que possibilitaram sua existência (QUINTANA, 1999, p. 27). Dessa maneira, as doenças que afligem o corpo, assim como as práticas de cura destinadas a combatê-las, também apresentam caráter social.

De acordo com Quintana, o processo ritual dos benzimentos é formado por três momentos. O primeiro seria o diálogo; o processo inicia com a chegada do consulente que solicita a intervenção do benzedor. O segundo, seria a bênção; que  é o próprio benzimento. Esse momento costuma ser acompanhado com orações católicas como Pai-Nosso, Ave-Maria, Credo e Salve Rainha. No repertório de rezas dos benzedores, as orações de quebranto, cobreiro, ventre-virado, entre outras são recorrentes. Esse compartilhamento de orações é comum a esse grupo. A apropriação dessas rezas resulta na ressignificação das práticas de benzedura, ou seja, mesmo com o repertório de orações semelhantes, os benzedores estabelecem novas leituras por meio de devoções particulares e religiosidades em sua prática de cura. Dessa forma, a prática da benzedura apresenta-se através da relação particular, da leitura que cada benzedor tem com o catolicismo, com outras religiões e crenças.

Durante a benzeção, alguns recursos e instrumentos são utilizados para auxiliar no processo de cura. O terço é um objeto muito utilizado nas benzeções, assim como o talo da mamona nos benzimentos para cobreiro. Ervas como alecrim e arruda costumam ser usadas nas benzeções de quebranto e mau-olhado. A agulha, linha e um pedaço de pano são utilizados nas orações de jeito e de coser. 

Alguns desses objetos servem como metáfora do corpo intermediário, como sugerem Edimilson Pereira e Núbia Gomes (2018). Para a extinção do mal e o restabelecimento do equilíbrio, as benzeções necessitam de um corpo intermediário, para o qual a doença e o sofrimento possam ser transferidos e anulados.

O último momento seria a prescrição, que são as condutas de como os consulentes devem agir depois da benzedura para que o tratamento surta efeito. Alguns benzedores, por exemplo, recomendam que o benzimento seja realizado durante três dias consecutivos, ou indicam tomar um banho de alguma erva medicinal para reforçar o processo de cura. 


REFERÊNCIAS:


OLIVEIRA, Tayane Aparecida Rodrigues. Reza Antiga, Cura Certa – Bênçãos, memórias e quebrantos: o oficio da benzedura na cidade de São João del-Rei.   Dissertação (Mestrado em História) – UFSJ, 2022. Disponível em: https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/pghis/DissertacaoTayaneAparecidaRodriguesOliveira.pdf. Acesso em: 10 de outubro de 2024.


PEREIRA, Edimilson de Almeida; GOMES, Núbia Pereira de Magalhães. Assim se benze em Minas Gerais: um estudo sobre a cura através da palavra. Belo Horizonte. Massa Edições, 2018. 


QUINTANA, Alberto Manuel. A Ciência da benzedura: mau-olhado, simpatias e uma pitada de psicanálise. Bauru: EDUSC.1999.

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