Por: Tayane Oliveira
HISTÓRICO:
A figura das benzedeiras e dos benzedores está vinculada ao imaginário popular, suas orações e rituais permeiam um universo criado por diversas influências religiosas e culturais. Através da prática, os benzedores representam uma figura intermediária que recebe o poder divino para aplicá-lo nas pessoas que o procuram a fim de se curar.
A tradição oral apresentada nos benzimentos tem como base difusora as redes familiares e de convivência. A partir delas os conhecimentos são transmitidos de forma direta ou indireta para a geração seguinte, o que garante de certa forma uma herança simbólica. Sendo a família o lugar em que os processos identitários são elaborados, a oralidade tem um papel essencial na transmissão desses valores e conhecimentos, pois corresponde ao caminho pelo qual os benzedores ingressam por esse ofício de cura.

A transmissão desses conhecimentos reflete na relação que os benzedores têm com o passado, com seus instrutores e com sua forma de ser e vivenciar a prática da benzedura. Além da transmissão dos conhecimentos, os benzedores acreditam que para exercer esse ofício de fé e cura é preciso ter o dom e/ou a fé necessária para realizar a prática. Eles se especializam nas práticas aprendidas de seus “instrutores” e as ressignificam a partir de sua vivência religiosa. De acordo com Marcel Mauss (2003), o dom ou a dádiva podem ser entendidos como sistema de trocas da vida social, no qual se baseiam nas relações de dar, receber e retribuir.
A partir desse conceito podemos entender a dinâmica estabelecida entre Deus, os benzedores e os consulentes. Dessa forma, o dom da cura recebido pelos benzedores por Deus, é retribuído através dos benzimentos para ajudar as pessoas que lhes pedem assistência, sem nenhuma cobrança financeira por parte dos benzedores.

Além das orações repassadas, os benzedores carregam consigo devoções e religiosidades que se manifestam a partir das vivências e visões de mundo desses sujeitos. A forma como cada benzedeira ou benzedor manifesta seu exercício de fé e cura no presente representa o modo como se conecta com seu passado.
Muito além de repetir as fórmulas das benzeduras, a prática está relacionada com sua vivência religiosa e com os valores que os benzedores trazem consigo. O ofício da benzedura desenvolvido por esses benzedores e benzedeiras carrega uma força ancestral que se perde no fio do tempo. Suas vozes ecoam saberes, expulsam o mal, promovem a cura, harmonizam o espírito. Fazer o bem é o que move suas trajetórias de vida.
REFERÊNCIAS:
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. 2003
OLIVEIRA, Tayane Aparecida Rodrigues. Reza Antiga, Cura Certa – Bênçãos, memórias e quebrantos: o oficio da benzedura na cidade de São João del-Rei. Dissertação (Mestrado em História) – UFSJ, 2022. Disponível em: https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/pghis/DissertacaoTayaneAparecidaRodriguesOliveira.pdf. Acesso em: 10 de outubro de 2024.
PEREIRA, Edimilson de Almeida; GOMES, Núbia Pereira de Magalhães. Assim se benze em Minas Gerais: um estudo sobre a cura através da palavra. Belo Horizonte. Massa Edições, 2018.
QUINTANA, Alberto Manuel. A Ciência da benzedura: mau-olhado, simpatias e uma pitada de psicanálise. Bauru: EDUSC.1999.