Por: Silvia Brügger e Giovanna Guimarães Silva
HISTÓRICO:
O Ilê Axé Omin Inã Opará Oju Aganju é um terreiro de candomblé, localizado no bairro do Tejuco, em São João del Rei, comandado por Pai Binha d´Oxum. O babalorixá conviveu com o universo das religiões de matrizes africanas desde a infância. Seu pai dirigia um terreiro de umbanda, que funcionava nos fundos da casa da família. Sua primeira manifestação espiritual ocorreu aos seis anos de idade. Aos 15 anos, foi diagnosticado com um problema cardíaco. No entanto, uma entidade que Binha recebia, um Boiadeiro, lhe disse que seu problema era de ordem espiritual e com orixá de candomblé. Em razão disso, foi a uma saída de santo em um terreiro em Lavras. Nesta festa, ele “bolou no santo”, ou seja, entrou em transe, incorporando Oxum. Foi recolhido ao quarto e passou pelo cuidado necessário para o santo subir. Ao final da cerimônia, foi avisado pelo pai de santo da casa que o seu orixá queria feitura, ou seja, que ele deveria ser iniciado no candomblé. Seu pai não aceitava os sacrifícios praticados no candomblé, mas foi convencido pelo Boiadeiro, entidade que Binha recebia, da necessidade daquela iniciação. Binha foi iniciado em Lavras. Mas depois de algum tempo passou a frequentar o terreiro de Pai Luís d´Oxum, em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Foi lá que deu a sua obrigação de sete anos, passando a ter condições de se tornar babalorixá e abrir seu próprio terreiro. A primeira sede do terreiro de Pai Binha foi a tenda de umbanda de seu pai. Este já idoso não tinha mais condições de cuidar das obrigações religiosas da casa. Em 2002, Pai Binha assumiu o cuidado do espaço, que precisou passar por um trabalho específico, feito por Pai Luís de Oxum, para plantar um fundamento de candomblé, preparar o portão e os quartos de iaôs. Um tempo depois, com o crescimento da casa, Pai Binha precisou mudar o terreiro para um espaço maior e ele foi construído bem próximo à Serra do Lenheiro, próximo a uma cachoeira. Com um muro amarelo e um tronco com chifres visíveis do exterior, na entrada do terreiro, pelo lado de dentro, há a firmeza da casa, referências a Exu, orixá da comunicação. Um pouco mais para frente, existe uma árvore com tecidos, fitas e imagens de corujas, representando a casa das Iá Mi Oxorangá, mães ancestrais, que habitam o topo das árvores. Do lado direito do terreno, tem uma construção destinada aos filhos da casa, uma cozinha e, ao fundo, um lugar destinado aos animais usados em oferendas, bodes, galinhas e patos. O salão do terreiro é acessado por alguns degraus, amplo, com paredes azuis. Duas portas do lado esquerdo dão acesso ao roncó, espaço destinado às iaôs. Entre as duas portas, o trono do pai de santo e outros dois menores, destinados aos filhos mais velhos da casa e a convidados especiais. Acima dos tronos, quadros de Xangô e Oxum, orixás do babalorixá. No centro do salão, existem os vasos de barro e acima deles, sustentada por uma estrutura de ferro, está a cumieira, ponto de energia do terreiro, por onde o Orum se comunica com o Ayê, o céu com a terra. Na parede ao fundo do salão, tem dezesseis quadros com imagens dos orixás. O terreiro funciona às segundas-feiras, a partir da 20h, com rituais de Quimbanda. As festas dos Orixás, em geral, acontecem em sábados previamente agendados, também a partir das 20h. Os dias de celebrações, muitas vezes, provocam reclamações da vizinhança, que chega a chamar a polícia, em clara manifestação de racismo religioso. Mas Pai Binha afirma que a polícia já está tão acostumada com o terreiro, que nem dá mais atenção aos chamados.
Tejuco | São João del Rei, MG | Brasil |
REFERÊNCIAS:
TEIXEIRA, R. T. A voz dos atabaques na cidade onde os sinos falam: trajetórias de vida de mães e pais de santo em São João del-Rei (MG) [dissertação]. São João del-Rei: Universidade Federal de São João del-Rei; 2020.