Por: Danilo José Zioni Ferretti e Giovanna Guimarães Silva
HISTÓRICO:
Em finais do século XIX, as duas orquestras de São João del Rei criaram suas próprias bandas e, em 1902, a da Ribeiro Bastos passou por um processo de dissidência. Surgiram duas bandas que por anos continuam com o nome de Ribeiro Bastos. Uma, dirigida por José Quintino dos Santos, o “Zé Chato’, que encerrou suas atividades em 1939. E a outra, liderada pelo maestro Angusto Theodoro de Faria, é a atual banda do mesmo nome. Desde os seus primeiros anos ela congregou diversos músicos negros, inclusive em seu quadro dirigente, como atestado nos retratos expostos em sua atual sede, servindo como espaço de formação, inserção e reconhecimento social para esses setores. Seu repertório variado estende-se a marchas festivas para procissões, motetos para as festas dos Passos e Semana Santa, marchas fúnebres para enterros, além de peças diversas, do erudito ao popular, para eventos cívicos e de entretenimento. A Banda teve José Francisco Borges, conhecido como “Zé Ximba”, como seu primeiro regente. Em 1917, a direção foi assumida por seu aluno Teófilo Inácio Rodrigues (1889-1973) que deu à banda o nome do recém-falecido Theodoro de Faria e transformou sua própria casa na Rua das Flores, por décadas, em sede da banda, realizando aí ensaios, a cópia de partituras e formando gerações de músicos, conforme a prática educativa que caracteriza as corporações musicais da cidade e até hoje é mantida pela banda. Ferroviário de profissão, pardo, Teófilo foi também um dos fundadores e primeiro presidente do rancho Custa Mais Vai (de 1923), evidenciando conexões entre componentes da Theodoro de Faria e o universo da cultura carnavalesca. Haveria também vários dos membros da Theodoro de Faria que participaram de bandas militares. Em 1954 a Theodoro de Faria avançou na sua institucionalização, constitui uma diretoria, um estatuto, e adotou um uniforme, com auxílio do pároco do Pilar, D. Almir Aquino. Em 1967, conseguiu estabelecer sede própria na rua Santo Antônio. Em 1973, com o falecimento de Teófilo Rodrigues, a banda passou por uma crise, com dispersão de músicos e suspensão do ensino, solucionada quando seu filho, Tadeu Nicolau Rodrigues, assumiu a liderança, ainda mantida. Com sua presença constante nas ruas, até hoje a Banda Theodoro de Faria transmite a lembrança do talento e participação de negros sanjoanenses nas festividades sacras e profanas que tornam a cidade conhecida nacionalmente, além de continuar fornecendo oportunidade de formação musical para jovens originários da classe trabalhadora, muitos deles negros.




Rua Santo Antônio | 289 | Tejuco | São João del Rei, MG | 36300-174 | Brasil
REFERÊNCIAS:
COELHO, Eduardo Lara. Coalhadas e rapaduras: estratégias de inserção social e sociabilidade de músicos negros (São João del, séc XIX), Resende Costa-MG, AMIRCO, 2014.
SACRAMENTO, Juanito André. “Homenagem a Tadeu Nicolau Rodrigues, em 15 de novmebro de 2023”. Disponível em: https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/1296 acesso 14/08/2024.
SEM NOME. “Banda Theodoro de Faria” disponível em: https://www.sonsdasvertentes.ufsj.edu.br/geral/banda-theodoro-de-faria, acesso 12/10/2024.
SILVA, Talisson Samuel e ROCHA, Edilson Assunção. “O Aquivo da Banda Theodoro de Faria: um estudo sobre marchas festivas”. Rocalha, São João del Rei, ano I, N 01, 2020. disponível em: http://www.seer.ufsj.edu.br/rocalha/article/view/4895
TIRADO, Abgar de Campos. “Uma família de musicistas” In: São João del Rei Transparente, s/d. https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/800